"No entanto, qualquer que seja o ponto a que tenhamos chegado, continuemos na mesma direção". (Fl 3, 19)

MENSAGENS


Aquilo que a CRB foi para mim e como ela me fez evoluir

Por Ana Roy |17.09.2005| Confesso que tenho gosto em respoder a esta solicitação, tanto me dou consciência de tudo que dela recebi. É uma história de amor que vou tentar contar.
Tudo começou certo dia de junho de 1963. Naquele tempo, estava ainda sozinha da minha congregação aqui no Brasil, vivendo uma bela expperiência de vida em favela, com uma leiga consagrada, associada a nossa congregação. Certo dia, informada e orientada por uma religiosa do cenáculo, me atrevi a bater à porta de um edifício da Avenida Rio Branco: uma porta maciça, letras brilhantes, “CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL”.... Que título solene...! Não recuei, mas quase. Nem sabia com quem falar... até o que falar... Que acolhida, porém, fraterna e atenciosa do padre Tiago Cloim, (nem me lembro se era então Presidente ou secretário executivo).
Esse redendorista, missionário com coração de fogo, tornou-se primeiro bispo de Barra, e um dia profetizou: “Irmã Ana, ‘a senhora’ (era ainda o tom) irá à Bahia”.
A impressão deste primeiro contato me marcou. Daí, saí e pensei: “Conferência”? O que é isso? Havia encontrado a CRB...


CASA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

... Casa não de pedras evidentemente, casa da Família de todos os consagrados onde reina fraternidade e sentido de pertença, onde cada um pode estar à vontade.
A Revolução de 64, o golpe militar, a dureza do regime iniciou um período muito duro de repressão para a Igreja e a Vida Religiosa. Esta não devia se metar em ação social. Em plena sintonia com a Igreja, apoiada por certos bispos corajosos, a CRB viveu esses anos como uma provocação, um chamado a criar resistências ao sistema vigente. Com prudência necessária e evangélica, refletíamos sobre o como os religiosos podiam tomar posições mais firmes contra a injustiça social, através de uma presença mais significativa, e isso me empolgava.
Participava desses encontros e minha vida entrou numa rede de amizade, de troca de experiências no núcleo e além. Havia uma grande confiança entre nós que libertava a palavra para construirmos juntos. Essas tentativas ajudaram nossas famílias religiosas a se abrirem a novas maneiras de se situar no mundo, no serviço da educação, da saúde, da pastoral.
E pensava: por que “Conferência”? Sem Conferência alguma, haveria sentido na fala que era nossa?
Para mim, CRB é:

O CHÃO DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

Quero dizer o espaço livre onde a gente pode pisar, sem receio, em toda liberdade em vista de uma ação concertada. Isso me despertou e me tornou disponível para cavar este chão.
Aquilo me marcou também muito nas reuniões. Era o ambiente de simplicidade tanto nos círculos quanto nas Assembleias maiores. Havia um ar especial, tranquilamente perigoso que expulsava a poluição do regime militar.
Soprava a força de um vento suave e ardente, criador. Isso dava asas. As minhas cresciam e as abri a essa lufada de ar liberdador em que se respirava esperança. Isso me fazia voar (no sentido próprio e simbólico) para aterrissar sempre mais longe, a fim de que possamos nos aproximar dos pobres.
Então pensei: “Conferência”? Será que este nome identifica a realidade?
Para mim, CRB é:

O CLIMA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

Enchia meus pulmões e meu coração e comecei a trabalhar com cursinhos, artigos, etc...
As grandes Conferências Latino-Americanas de Medelin, Puebla e Santo Domingo se empenharam em dar respostas criativas às propostas conciliares.
Só por memória:
  • A primeira destacou a interação entre o cristianismo e a libertação dos povos.
  • A segunda confirmou a intuição com a opção preferencial pelos pobres.
  • A terceira ressaltou a pluralidade cultural dos povos latinos e apontou a inculturação do Evangelho.
Aí, ao longo desses anos, a CRB encontrou a matéria-prima de todo seu esforço para potencializar uma formação humanizante e humanizadora a partir de uma vida consagrada particularmente atenta aos excluídos da sociedade.
Não seria possível avaliar a soma de trabalho e de produção oferecida a nossas famílias religiosas. Para tanto, a CRB vinculou lideranças, multiplicou as instâncias de formação, verdadeiros laboratórios de análises de situações e de respostas evangélicas.
Nossa querida CASA adquiriu sempre mais nova garra e nova graça.
Depois de um tanto recebido, vem o momento de retribuir. Não podia me omitir. Desde uns vinte anos, servi a CRB e ofereci a minha pequena contribuição. Durante doze anos lecionei; não, me desculpem, não lecionei, mas partilhei minha releitura da inserção à luz da Escritura. E deste curso dado com muitos outros assessores, saíram muitos pedidos e solicitações. Como se negar? As nossas Regionais chamaram do Norte ao Sul. Muitas congregações fizeram apelo para um curso, um retiro, um capítulo.
E que emoção, cada vez que havia assim acesso ao tesouro de um Instituto religioso, descobrindo a riqueza de um carisma e a vida de tal fundador ou fundadora. Isto me enchia de admiração, de adoração diante do Mistério de Deus sempre maior que nossas pobres palavras e jamais esgotável nos carismas que vivemos para manifestá-lo.
Então vocês entendem por que amo tanto a VR, dom de Deus pela mediação da Igreja, a toda a humanidade. Eu sou Auxiliar do Sacerdócio de Jesus. A CRB desdobrou a minha vocação, e passei a ser pequena, modesta e fraterna Auxiliar da Vida Consagrada, sem nada perder da minha identidade vocacional.
Queria aproveitar para agradecer às CRB’s Nacional e Regionais por me terem chamado e tanto enriquecido. Agradeço também às minha superioras que apoiaram a minha missão e a encorajaram, com a ressalva de “equilíbrio” ao qual faltei uma vez ou outra.
Então é “Conferência” tudo isso ou fala “ao vivo”?
Para mim, CRB significa:

CONEXÃO DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

Posso afirmá-lo, somos todos e todas conectados/as de Belém a Porto Alegre, do interior à Capital. É o mesmo Espírito que nos reúne e nos impulsiona.
2005: suspense no ano feliz de minhas oitenta primaveras.
No dia 30 de maio, voltava de Porto Alegre onde havia dado um retiro e um cursinho a uma Congregação querida; nos primeiros dias de junho: uma visita. Jesus chegou, através das mediações médicas, para me deixar um recado. Era uma anunciação. Como toda anunciação, exige rupturas... Haverei de ter, agora, uma nova maneira de servir na CRB. Pressinto que a oração, a ação de graças terão mais espaço, assim ninguém perderá e todos ganharão.
Vou concluir e confirmar minha pequena parábola.
“Conferência”... quem sabe?
Para mim, CRB é e sempre será

CORAÇÃO DOS RELIGIOSOS DO BRASIL

O meu coração bate ao seu ritmo e o dEle acompanha cada batida do meu. Então é por isso que nós nos amamos tanto.
Até sempre e o meu maior e carinhoso OBRIGADA.


CRB agradece as centenas de mensagens de felicitações pelos 60 anos




Por Rosinha Martins|17.02.14| A CRB Nacional – Conferência dos Religiosos do Brasil agradece aos leigos, aos religiosos, religiosas, aos parceiros na missão e a todos e todas, sem exceção, pelas centenas de mensagens de felicitação enviadas para a Conferência via e-mail ou redes sociais, vindas da  Romênia, Argentina, Chile, Itália, Paraguai, Vermont - EUA, de todos os estados do Brasil, de todas as classes, idades e culturas.
No último dia 11, a Conferência dos Religiosos do Brasil completou 60 anos de fundação e celebra, por meio de várias atividades como  celebrações, semanas missionárias, novenas, encontros formativos, entrevistas e publicações, o ano Jubilar que se encerrará em dezembro de 2014.
A CRB Nacional convida a todos e todas, leigos, jovens, crianças, adultos, homens e mulheres, religiosos, religiosas, o clero diocesano, a Igreja em geral, todas as culturas, a participar, a se alegrar e comemorar conosco a celebração de 60 anos de história na luta pela construção do Reino de Deus, na expectativa de que a justiça, a mesa farta, a fraternidade e a igualdade sejam implantadas nessa terra e todos e todas possam gozar do direito à dignidade.

Retomando a história, conhecendo as raízes

Capela Santa Cruz dos Militares, Rio de JaneiroDe acordo com Irmã Maria Carmelita de Freitas, fj, as Conferências Nacionais de Religiosos surgiram a partir do Congresso Internacional de Religiosos realizado pela Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, no pontificado de Pio XII.  Esse Congresso que era uma das atividades do Ano Santo, teve como objetivo principal o aggiornamento da Vida Religiosa.
Semente do Congresso Internacional, acontece de 7 a 13 de fevereiro de 1954, na Capela Santad. Martinho Michler,osb, primeiro presidente da CRB Nacional Cruz dos Militares (foto à esquerda), no Rio de Janeiro,  o Congresso Nacional de Religiosos do Brasil, com a participação de um pouco mais de 1000 religiosos e religiosas procedentes dos diversos estados do país e tinha como objetivo a atualização da Vida Religiosa e a organização do seu apostolado.  Ali, no dia 11 de fevereiro, portanto, durante o Congresso, nasceu a Conferência dos Religiosos do Brasil.
“O acontecimento tem, para os religiosos do Brasil, o mesmo alcance que teve para a hierarquia da Igreja a fundação da CNBB. Os dois secretariados deverão, aliás, atuar sempre dentro da mais completa sintonização”, disse D. Elder Câmara, em Comunicado Mensal da CNBB, na época.
As figuras chaves  neste momento  foram o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, d. Jaime de Barros Câmara e o salesiano, padre Irineu Leopoldino de Souza. A CRB teve como primeiro presidente o beneditino e abade do Mosteiro São Bento, do Rio de Janeiro, d. Martinho Michler (foto).

Mensagens
Abaixo seguem centenas, das centenas de milhares de felicitações que não cabem todas neste espaço, mas a CRB as guarda na memória e no coração.

Muitos parabéns!!! (Camila Carvalho Mota)

Parabéns, pelos 60 anos!!!! (Graça Figueiredo)

parabéns! Deus os abençoe infinitamente... abraços! (Mirian Lacerda)   

Parabéns que Deus seja fonte de luz nas vossas vidas. (Elcimídia Vaz Perreira)

Parabéns e muitas bençãos sejam derramadas( Carmem Casagrande)

Parabéns pela missão! (Frater Antônio Reinaldo)

Parabéns e muitas felicidades!!!(Francisco José)

Parabéns a toda Vida Religiosa Consagrada de BH, que Deus abençoe a todos/as. Abraço (Eva Santos)

Parabéns que esta data se repita por muitos anos e que Deus abençoe seu dia abraços. (Cezar Troiano)

FELICIDADES, DEUS ABENÇOE FELIZ ANIVERSÁRIO. (Valéria Domenes Cassanta)

PARABÉNS, FELICIDADES. BJO (Maria Ângela Cassimiro)

PARABÉNSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS!!! (Maite Proença)

Feliz Aniversário! Que Deus te presenteie com muita Saúde, Paz, Alegrias, Prosperidade, Segurança, Amor, Paixão, União, Fé, Esperança, Amizades, Auto estima, Felicidade, Inteligência, Equilíbrio, Harmonia, Sucesso, Bençãos, Vitórias em tudo que planejar, Sabedoria, e tudo de melhor que Ele tiver pra ti! Que tu consigas alcançar todos teus objetivos, conquistar tuas metas e realizar todos os teus sonhos!!! (Marco Figueiredo)

Parabéns, Deus continue abençoando e guiando a vida e a missão na caminhada missionária. Abraços (padre Camilo Pauletti - presidente das POM - Brasília)

Parabéns e felicidades! Paz e bem! (Jurandir Junior)

Deus abençoe a toda a vida consagrada! (UCP Umuarama)

Muitas felicidades em seu aniversario... Parabéns e Deus abençoe... (Mauricio Martinez Duran - Talagante, Region Metropolitana, Chile)

Feliz y bendecido aniversario de vida.(Padre Alcides Salinas Sosa – Buenos Aires)

Parabéns e muitas bençãos sejam derramadas (Carmem Casagrande – Marília - SP)

Parabéns pelo trabalho de vocês, que Deus continue abençoando vocês. (Elisane Terra Gabi – Campos – RJ)

Parabéns, pelos 60 anos!!!! (Graça Figueiredo) 

Parabéns! Deus os abençoe infinitamente... abraços! (Mirian Lacerda)

Parabéns que Deus seja fonte de luz nas vossas vidas. (Elcimídia Vaz Perreira)

PARABÉNS, que Deus continue abençoando nossa caminhada! (Cirlene Sasso)

Felicidades e que hoje e sempre a sorte de tudo que é bom te acompanhe! Parabéns....( Fabiane Rodrigues)

Que Deus abençoe a toda a vida consagrada(Solange G. Martinez Saraceni – Londrine - PR)

Felicidades! Alegrias e bênçãos! (Neli Basso)

Parabéns, fé no amor de Deus. (Paráclito Santo)

Desejo fidelidade na missão e compromisso com a vida da juventude. Abraços.(Carmem Lúcia Teixeira)
Parabéns, felicidades, muitos anos de vida com as bençãos de DEUS. (Almery Mendes)
Parabéns vida consagrada! (Jessica Esther)

Parabéns! Que honra o Senhor lhe dá de mais 1 ano ser comemorado. Agradeça-lhe todos os dias, pois eu o faço assim por tua vida. Felicidades em Cristo, hoje e sempre!
Parabéns, q Deus os abençoe! (Alexandre Luna)

Parabéns CRB por ter nos proporcionado a Irmã Benita das Beneditinas para nos acompanhar o Retiro foi uma bênção de Deus na sua simplicidade mas uma profundidade belíssima...parabéns CRB, amei o Retiro nas Monjas Beneditinas. ..parabéns! !!

Felicidades! Grande Abraço!(Paulo Henrique)

Parabéns e que Deus lhe abençoe(Irmão Douglas  Gincreski (Roma)
feliz aniversario que Dios siga bendiciéndolos (René Gabriel Aveiro – Villa Hayes- Paraguai)

 A Vida Consagrada é voltada totalmente para Deus e os irmãos.(Aparecida Silva – Sabará – MG)

Feliz aniversário. Muitas felicidades e que Deus vos abençoe. Parabéns!!!(Diego Tanaka – Maringá- PR)

Feliz aniversário Um momento especial de renovação para sua alma e seu espírito, porque Deus, na sua infinita sabedoria, deu à natureza, a capacidade de desabrochar a cada nova estação e a nós capacidade de recomeçar a cada ano. Desejo a vocês, um ano cheio de amor e de alegrias. Afinal fazer aniversário é ter a chance de fazer novos amigos, ajudar mais pessoas, aprender e ensinar novas lições, vivenciar outras dores e suportar velhos problemas. Sorrir novos motivos e chorar outros, porque, amar o próximo é dar mais amparo, rezar mais preces é agradecer mais vezes. Fazer Aniversário é amadurecer um pouco mais e olhar a vida como uma dádiva de Deus. É ser grato, reconhecido, forte, destemido. É ser rima, é ser verso, é ver Deus no universo; Parabéns a vocês nesse dia tão grandioso. (Felipe Medeiros de Oliveira)
Parabéns ! Que Deus conceda muita saúde,paz e alegrias ! Um abraço e orações !(Maria Patrícia de Oliveira Monteiro – Salvador)

Parabéns que o amor de Kairós te ilumine (Maria Filomena Scorzo)

Parabéns e muita bençãos o Senhor vos ilumine nesta caminhada * * Abraços e orações (Suor Maria Claudia Roby – Slatina- Romênia)

Feliz aniversário! (Irmã Raimunda – Campanha-MG)

Parabéns!!!!!Louvamos e bendizemos ao Bom Deus!!!!! (Simone Muler – Novo Hamburgo)

PARABÉNSSS!!!( Fábio Galdino – João Pessoa)

Felicidades!!!!! (Zenilda Cunha – Aparecida- SP)

Parabéns para você,  muitas felicidades! Deus sempre lhe abençoe, ilumine e proteja!
 (Frei Antoniel Almeida – Porto Seguro)

Auguri (Franco e Mimma Minelli – Pulsano Puglia- Itália)

Profunda gratidão! Parabéns! (Irmãs Maristas - BH)

Felicidades e muitos anos de vida com muito amor, muita saúde e muita paz. Deus abençoe. (Carmelo Santissima Trindade)

Parabéns! Chuvas de graças e de bençãos! (Alexandre Araújo – Niteroi - RJ)
PARABÉNS!!! (Irlei Deus)

Feliz celebração jubilar. Um imenso muito obrigado por vosso trabalho e missão e pedido de graças abundantes a Deus pelos sonhos e utopias a sonhar e partilhar daqui prá frente. Como sempre diz nosso amado Cardeal Paulo Evaristo Arns: De esperança em esperança! Coragem, vamos em frente! (Prof. Fernando Altemeyer Junior - Sâo Paulo)

"Estou unido à CRB nestes 60 anos" (Dom Pedro Casaldáliga - São Félix do Araguaia - 18.02.14) - Dom Pedro Casaldáliga reside em São Félix do Araguaia  e falou à Assessoria de Comunicação em 18 de fevereiro de 2014, por telefone,  com a ajuda de um confrade. Disse não poder mais dar entrevistas porque a dificuldade na fala, devido a um mal de parkinson o impede.)

Mensagem de dom Pedro Casaldáliga por ocasião dos 60 anos da CRB Nacional




Por Rosinha Martins| O bispo emérito da prelazia de São Felix do Araguaia e religioso claretiano, dom Pedro Casaldáliga enviou, no último dia 22, uma mensagem de saudação à CRB Nacional pelos 60 anos.

Por ocasião do ano Jubilar, a Conferência pediu a dom Pedro um artigo para a revista Convergência, porém por conviver com um mal de Parkson já em estado avançado que lhe condiciona a escrita e a fala, Casaldáliga disse não ter condições de escrever. “Não tenho condições de escrever um texto formal. O Parkinson, em estado muito avançado, me condiciona e exige obediência... A esperança, porém, não tem limites. Nessa esperança abraço vocês todos e todas”, disse em resposta a Irmão Lauro,  assessor da revista Convergência.

Mesmo nas condições descritas, dom Pedro enviou uma mensagem à CRB pelos 60 anos. E escreveu:

“60 anos da CRB são muitos anos de Graça, de fidelidade, de criatividade pastoral, de testemunho, enfim, de uma vida consagrada à procura do Reino. O testemunho tem-se vivido sobretudo nas “periferias existenciais” de que nos fala o papa Francisco. A vida religiosa, inserida nas fronteiras das várias culturas, no deserto da solidão, nas lutas do povo, tem evangelizado copiosamente.

Não faltaram as provações, as incompreensões, as tensões em casa e na rua, por vezes com a própria hierarquia e vivenciando a prova maior de dar a vida. O martírio tem selado muita vida consagrada em nosso Brasil; em nossa América. Muitos motivos para celebrar os 60 anos da CRB e para reassumir os novos desafios com maior fidelidade, com paixão evangélica, sempre na procura do Reino, no seguimento de Jesus com a radicalidade das Bem-aventuranças”, relatou.
A CRB Nacional agradece ao dom Pedro, a sua mensagem e muito mais o seu testemunho profético, o seu modo de ser e de viver apaixonado pelo Reino de Deus,  que tem sido um estímulo e motivo de ação de graças para a Vida Religiosa do Brasil. 
Dom Pedro Casaldáliga completou 86 anos no último dia 16. (Fonte: CRB Nacional)

Dom Pedro Casaldáliga - Santo e herói

À luz deste título,  Frei Betto assim escreveu sobre dom Pedro, em um artigo para a Adital:
O Brasil é um país de santos e heróis, embora poucos alcancem reconhecimento público. Talvez seja efeito de nossa baixa auto-estima, tão evidente que, hoje, induz o governo federal a promover campanha publicitária para que o nosso povo sinta orgulho do que é e do que faz.

 Durante séculos, de costas para a América Latina, miramos no espelho dos brancos europeus e norte-americanos. O que víamos não era o nosso rosto indígena, negro, mestiço. Era a imagem paradigmática do colonizador a nos convencer de que somos atrasados, feios, improdutivos e inferiores. Por isso, nossos avós almejavam “purificar-se” dessa fétida brasilidade contraindo matrimônio com imigrantes brancos, exterminando povos indígenas em nome da civilização e mantendo os negros escravos na senzala e, após a abolição da escravatura (1888), na miséria e na pobreza.

Quantos brancos casados com negras? Quantos negros das classes A e B casados com negras? Impedidas pelo preconceito e pela pobreza de frequentar escola, as negras servem para trabalhos domésticos, onde a chibata é substituída, em geral, por um salário ínfimo. E as mestiças, identificadas às mulas, tratadas de mulatas, tornaram-se símbolos do hedonismo carnavalesco e dos atrativos turísticos voltados à prostituição farta e barata.
 Abrigamos no Brasil o mais longo período de escravidão das três Américas – 358 anos – e ainda culminamos o processo da abolição com a exclusão dos negros libertos do direito de acesso à terra, entregue aos colonos europeus que aqui aportaram empurrados pelo desemprego causado pela revolução industrial do século XIX e a acelerada urbanização do Continente europeu.

Os povos indígenas, calculados numa população de 5 milhões no século XVI e, hoje, reduzidos a 700 mil, foram massacrados, desaldeizados, contaminados pelas doenças dos brancos, pela cachaça dos brancos, pela voracidade mercantil dos brancos, pela ambição de minérios e madeiras dos brancos. Expulsos de seu ambiente natural e dos livros didáticos, tornaram-se sinônimos de “primitivos” e “selvagens”, não no sentido de primeiros habitantes dessas terras ou de moradores da selva, e sim de atrasados e brutais.

 Restrita a nação ao convés da primeira classe, perdemos de vista nossos santos e heróis, embora proliferem entre nós tantos artistas, atletas, intelectuais, e também inventores como Santos Dumont. Porém, as coisas não existem a partir do momento em que as conhecemos. Independem, felizmente, de nossa ignorância. A realidade não é o que pensamos dela. Transcende nossas limitações.
 Não tão conhecido como mereceria, há no Brasil um santo e herói: Pedro María Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical (no sentido etimológico de ir às raízes) ao Evangelho, e herói pelos riscos de vida enfrentados e as adversidades sofridas.
 Catalão de Barcelona, onde nasceu em 1928, a 16 de fevereiro, Casaldáliga ingressou na Ordem Claretiana, consagrada às missões, onde foi ordenado sacerdote em 1943. Impregnado da espiritualidade dos Cursilhos de Cristandade, veio para o Brasil e, em 1968, mergulhou na Amazônia. Em 1971, nomearam-no bispo de uma prelazia amazônica, à beira do suntuoso rio Araguaia: São Félix do Araguaia. Adotou como divisa princípios que haveriam de nortear literalmente sua atividade pastoral: “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”. No dedo, como insígnia episcopal, um anel de tucum, que se tornou símbolo da espiritualidade dos adeptos da Teologia da Libertação.

 São Félix é um município amazônico do Mato Grosso, situado em frente à Ilha do Bananal, numa área de 36.643 km2. Na década de 1970, a ditadura militar (1964-1985) ampliou a ferro e fogo as fronteiras agropecuárias do Brasil, devastando parte da Amazônia e atraindo para ali empresas latifundiárias empenhadas em derrubar árvores para abrir pastos ao rebanho bovino. Casaldáliga, pastor de um povo sem rumo e ameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em choque com os grandes fazendeiros; as empresas agropecuárias, mineradoras e madeireiras; os políticos que, em troca de apoio financeiro e votos, acobertavam a degradação do meio ambiente e legalizavam a dilatação fundiária sem exigir respeito às leis trabalhistas.

 Dom Pedro tem sido alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave em 1976, em Ribeirão Bonito, no dia 12 de outubro – festa da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Ao chegar àquela localidade em companhia do missionário e indigenista jesuíta João Bosco Penido Burnier, souberam que na delegacia duas mulheres estavam sendo torturadas. Foram até lá e travaram forte discussão com os policiais militares. Quando o padre Burnier ameaçou denunciar às autoridades o que ali ocorria, um dos soldados esbofeteou-o, deu-lhe uma coronhada e, em seguida, um tiro na nuca. Em poucas horas o mártir de Ribeirão Bonito faleceu. Nove dias depois, o povo invadiu a delegacia, soltou os presos, quebrou tudo, derrubou as paredes e pôs fogo. No local, ergue-se hoje uma igreja.

 Cinco vezes réu em processos de expulsão do Brasil, Casaldáliga mora em São Félix num casebre simples, sem outro esquema de segurança senão o que lhe asseguram três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Calçando apenas sandálias de dedo e uma roupa tão vulgar como a dos peões que circulam pela cidade, Casaldáliga amplia sua irradiação apostólica através de intensa atividade literária. Poeta renomado, traz a alma sintonizada com as grandes conquistas populares na Pátria Grande latino-americana. Ergue sua pena e sua voz em protestos contra o FMI, a ingerência da Casa Branca nos países do Continente, a defesa da Revolução cubana e, anos atrás, em solidariedade à Revolução sandinista ou para denunciar os crimes dos militares de El Salvador e da Guatemala. Hoje, inquietam-lhe a demora do governo Lula em realizar a reforma agrária e o lastro de miséria e destruição que o agronegócio deixa em terras do Mato Grosso.

Dom Pedro tornou-se também pastor dos negros e dos indígenas, introduzindo suas riquezas culturais nas liturgias que celebra. Em sua prelazia habitam os índios Tapirapé, salvos da extinção graças aos cuidados tomados pelo bispo.

Convocado às visitas periódicas (“ad limina”) que todos os bispos devem fazer ao Vaticano para prestar contas, Casaldáliga faltou a inúmeras, por considerar os gastos de viagem incompatíveis com a pobreza de sua gente. No entanto, remeteu aos papas cartas proféticas, exortando-os à opção pelos pobres e ao compromisso com a libertação dos oprimidos.

 Certa ocasião fez uma longa viagem a cavalo para visitar a família de um posseiro que se encontrava preso. Chegou sem aviso prévio. Diante de um prato de arroz branco e outro de bananas, a filha mais velha, constrangida, desculpou-se à hora do almoço: “Se soubéssemos que viria o bispo teríamos feito outra comida”. A pequena Eva, de sete anos, reagiu: “Ué, bispo não é mais melhor que nós!” Esta uma lição que ele guardou. E sempre praticou, evitando privilégios e mordomias.

 Fundador da Comissão Pastoral da Terra e do Conselho Indigenista Missionário, Casaldáliga admite que a sabedoria popular tem sido a sua grande mestra. Indagou a um posseiro o que ele esperava para seus filhos. O homem respondeu: “Quero apenas o mais ou menos para todos”. Pedro guardou a lição, lutando por um mundo em que todos tenham direito ao “mais ou menos”. Nem demais, nem de menos.

 Em setembro de 1985 viajei a Cuba com os irmãos e teólogos Leonardo e Clodovis Boff. Falamos com Fidel  que dom Pedro seencontrava em Manágua, participando da Jornada de Oração pela Paz, e o líder cubano insistiu para que o trouxéssemos a Havana. Tão logo desembarcou na capital de Cuba, a 11 de setembro, o bispo foi conduzido diretamente ao gabinete de Fidel. Este mostrava-se interessado na literatura sobre a Teologia da Libertação. Dom Pedro observou com a sua fina ironia:
 - Para a direita é preferível ter o papa contra a Teologia da Libertação do que Fidel a favor.
 Na mesma noite, Casaldáliga discursou na abertura de um congresso mundial juvenil sobre a dívida externa:
 - Não é só imoral cobrar a dívida externa, também é imoral pagá-la, porque, fatalmente, significará endividar progressivamente os nossos povos.
 Ao reparar que os sapatos do prelado estavam em péssimo estado, o secretário de Fidel lhe ofereceu um par novo de botas.
 — Deixo os meus sapatos ao Museu da Revolução – brincou dom Pedro.
 Fomos juntos para a Nicarágua no dia 13. Ali Dom Pedro participou de inúmeros atos contra a agressão do governo dos EUA à obra sandinista e batizou o quarto filho de Daniel Ortega, Maurice Facundo
 Em sua segunda viagem a Cuba, em fevereiro de 1999, Casaldáliga declarou em público, em Pinar del Río:
 - O capitalismo é um pecado capital. O socialismo pode ser uma virtude cardeal: somos irmãos e irmãs, a terra é para todos e, como repetia Jesus de Nazaré, não se pode servir a dois senhores, e o outro senhor é precisamente o capital. Quando o capital é neoliberal, de lucro onímodo, de mercado total, de exclusão de imensas maiorias, então o pecado capital é abertamente mortal.
 E enfatizou:
 - Não haverá paz na Terra, não haverá democracia que mereça resgatar este nome profanado, se não houver socialização da terra no campo e do solo na cidade, da saúde e da educação, de comunicação e da ciência.
 Em 2003, ao completar 75 anos, Casaldáliga apresentou seu pedido de renúncia à prelazia, como exige o Vaticano de todos os bispos, exceto ao de Roma, o papa. Só agora, em 2005, o Vaticano nomeou-lhe um sucessor. Antes, porém, enviou-lhe um bispo que, em nome de Roma, pediu que ele se afastasse da prelazia, de modo a não constranger o novo prelado. Dom Pedro não gostou do apelo e, coerente com o seu esforço de tornar mais democrático e transparente o processo de escolha de bispos, recusou-se a atendê-lo. O novo bispo, frei Leonardo Ulrich Steiner, pôs fim ao impasse ao declarar que dom Pedro é bem-vindo à São Félix.

"O Anel de Tucum"
“... Chamar-me-ão de subversivo/
Eu responderei incisivo:/
O sou. Pelo meu povo que luta,/
Pelo meu povo que trilha apressado/
Caminhos de sofrimento./
Eu tenho fé de guerrilheiro/
E amor de revolução./
E entre Evangelho e canção/
Penso, e digo o que sei./
Se escandalizo, primeiro/
Eu me abrasei de Paixão/
Na cruz do meu Senhor!”
(Pedro Casaldáliga)

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